04 novembro 2008

Secret Garden

Diante da porta de carvalho antiga e com insígnias misteriosas, coloco a chave...
É o momento!
Escuta, é o ranger da porta, as dobradiças estão velhas e ferrugentas, nada aqui é novo, é antigo como o pensamento... Consegues espreitar o que está depois desta magnânime porta? Não?!? Aquele lugar é sagrado e solitário, não quero que ninguém o penetre nem o viole, será que queres mesmo entrar?
Descalça-te e eu descalço-me também, colocamos os nossos sapatos à entrada, e sem fazer barulho, de mansinho, vamos entrar... vamos entrar no meu jardim invisível aos olhos do mundo, perceptível na minha imaginação!
Coloca os pés em linha e pisa a relva, sente o orvalho da manha que persiste na relva molhada e aparada, não é maravilhoso? E o odor? Um cheiro de terra húmida quente com aromas de baunilha, margaridas, tulipas, íris, macieiras e a madeira dos plátanos e carvalhos... consegues cheirar? É o meu jardim, a libertação do meu eu, o meu ponto de encontro com a minha imaginação, a minha protecção para a realidade que me sufoca...
Fecha os olhos, consegues ouvir as mil e uma entoações do bater das asas das borboletas? Sente a energia que elas emanam, sente a mesma energia que eu recebo neste lugar encantado da minha mente.
Abre os olhos e vê o meu ponto de refúgio, o meu canto de inspiração, o meu passaporte para a divagação e fuga da realidade que me atormenta... ali esta ele, o meu baloiço feito de madeira envelhecida amarrado por cordas deterioradas pelo tempo e corrompidas por eras de mil formas, é ali que fico muitas vezes... ora a pensar, ora a imaginar, ora a divagar, ora...
Agora que te mostrei o meu jardim... a minha mente, entendes porquê que não quero que ninguém entre? Seria a sua destruição, seria o meu desfalecer, seria o obscuro da solidão e do desespero a alcançar todo o meu espírito e alma... seria o meu homicídio/suicídio, por isso não quero entregar este meu canto selvagem de natureza sacra a ninguém... atitude egocêntrica quiças, mas verdadeira! Este lugar é o meu refúgio!
Sinto a brisa do vente gélido na face, a porta rangeu... é hora de sair
Vamos sair...

Talvez numa outra altura deixe a porta entreaberta...talvez